Sobre Pandza: “Concordo com o Denny Og, mas vou mais além…” – João da Diamantina


 Por: João da Diamantina

Este artigo surge como reaação à entrevista que Denny Og concedeu a Fred Jossias, na qual defendia que os artistas moçambicanos têm que fazer Pandza em detrimento dos estilos de música de fora de Moçambique, de  modo a internacionalizar a música.

Antes de dizermos que os artistas devem fazer Pandza, devemos tentar perceber o que os move aos outros estilos e que os afasta do Pandza. Começando assim, se calhar podemos encontrar linhas orientadoras que nos podem fazer chegar a solução. A tese do Denny Og é pertinente, vejo nela, rastros de alguém que, de alguma forma, está preocupado com o lugar de Moçambique no mundo. Acredito que todos os moçambicanos sonham com um Moçambique além fronteiras, seja por via de artes ou por outras vias que engrandecem o país. Mas quando repararmos ao fundo iremos perceber que para sermos ouvidos além fronteiras precisaremos de mais do que apenas ter os artistas a fazerem Pandza. 

O facto é que esta forte migração aos outros estilos musicais é originada por algumas condições que beneficiam o fazedor, tais condições que no Pandza não há. 

O que faz alguém copiar algo? Uma pessoa copia uma ideia porque a mesma já foi testada e funcionou. Quem quer copiar algo que não funciona sabendo que há o que realmente funciona?

Para fazer tal cópia, inconscientemente ou não, a pessoa pensa assim: “Se funcionou para fulano, irá funcionar também para mim.” Por isso que um grosso número de pessoas faz estilos como Kizomba, Amapiano & Naija, são estilos que foram testados e são um sucesso e todo o mundo quer sucesso.

Para o pandza ter sucesso além fronteiras será preciso fazer com que todo o moçambicano acredite que o Pandza é um estilo contemporâneo e daí torná-lo elegível a ombrear além fronteiras. Para isso, são chamadas várias áreas a actuar. Não serão apenas os músicos que vão colocar a música além fronteiras. 

O governo tem participação nisso, os estilistas, apresentadores, locutores, escritores, jornalistas, as grandes marcas e outras áreas. Em outras palavras, precisamos nos organizar. 

De que forma cada um dos grupos acima citados pode participar? As formas de participação podem ser várias, dou alguns exemplos de como isso pode acontecer:

  1. O governo pode criar políticas que ajudam aos músico
  2. Estilistas exportam conceitos moçambicanos de vestir
  3. Apresentadores engrandecem o Pandza 
  4. Locutores criam um ranking de Pandza do mês por exemplo
  5. Escritores escrevem sobre Pandza
  6. Produzem documentários sobre
  7. As grandes marcas endossam artistas (Win-Win)
  8. Os blogues abordam diferentes assuntos ligado ao Pandza

O pandza será um pacote para o turismo. Há pessoas que não conhecem o primeiro-ministro do Canadá, mas conhecem Drake. Tão simples quanto isso. 

Através do ambiente descrito acima, fazer pandza seria natural. Mas sem condições que ajudem o artista, não vejo nenhum a fazer Pandza por mero patriotismo. É arte, mas quem a faz precisa de tirar proveito, em palavras miúdas, precisa vender. O pandza é bonito mas não vende muito. 

Somos constantemente bombardeados por vários estilos todos os dias e produzimos pouco.  Neste cenário, é óbvio que a maior parte das pessoas acaba por fazer alguns desses estilos. O nosso mercado é extremamente frágil. Até o banal tem espaço aqui. Acha que todas as pessoas que vestem Gucci é porque gostam? As pantalonas? Não necessariamente, é tendência, todo o mundo usa ou viu no videoclipe do Fulano. 

De modo geral, actualmente, Moçambique copia Angola, África de Sul e Nigéria e este países, antes de serem consumidos além fronteiras em termos musicais, foram primeiro aceites internamente. Em outras, não existe um país que está a ser ouvido além fronteira que não tem indústria a funcionar internamente. 

Nós temos que organizar a casa primeiro! Posto isto, podemos pensar em internacionalizar a nossa música. Ainda não está enlatada. Até tem caldo, mas as embalagens?(M.E.)

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